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O poema “A lágrima de um Caeté”, de Nísia Floresta

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Buscando respostas para sua pergunta enigmática “Onde está o teu herói?”, o Caeté se revela como um índio protagonista crítico e consciente.

ILUSTRAÇÃO: danieluiz. DESTAQUE: desenho em nanquim que destaca a conversa entre dois índios da Tribo dos Caetés.

Com 712 versos, o longo poema “A lágrima de um Caeté” discursa sobre um “vulto de um homem”, mais tarde identificado de modo épico como um índio Caeté que viveu e que lutou contra a colonização portuguesa, ainda nos séculos XV e XVI.

Esse índio surge, no poema,  às margens do rio pernambucano Capibaribe: “Lá quando no Ocidente o sol havia / Seus raios mergulhado, e a noite triste / Denso ebânico véu já começava / Vagarosa a estender por sobre a terra; / Pelas margens do fresco Beberibe, / Em seus mais melancólicos lugares, / Azados para a dor de quem se apraz / Sobre a dor meditar que a Pátria enluta! / Vagava solitário um vulto de homem, / De quando em quando ao céu levando os olhos / Sobre a terra depois tristes os volvendo…”

O texto prossegue com o herói Caeté que está com sentimentos de vingança contra o invasor português. O Caeté segue rumo à luta de modo consciente, em busca de se aliar aos inimigos dos portugueses, os revolucionários praieiros. Antes de isso acontecer, o índio Caeté rememora lembranças de nomes de personagens históricos das revoluções que ocorreram, três séculos depois da derrota da tribo dos Caetés. O índio, após ouvir o grito de guerra “Eia, avante guerreiros!”, seguido de um grande estopim, quando pode ver melhor a cena, depara-se com o herói morto Nunes Machado (1809-1848), um dos líderes da Revolução Praieira.

 

ILUSTRAÇÃO: danieluiz. DESTAQUE: desenho em nanquim sobre o Caeté que chora diante da morte do herói Nunes Machado.

O Caeté, que dignamente chora diante do amigo morto, recebe a presença do Gênio do Brasil, um personagem bastante enigmático e mitológico, pertencente ao plano maravilhoso. O Gênio quer que ele desista da vingança, argumentando de modo onipotente, ao afirmar que essa luta não seria a mesma luta do Caeté e de seu povo há séculos dizimado e que os objetivos dos praieiros eram políticos e partidários, diferentes dos seus, contra o invasor luso. Ainda não convencido, o Caeté vê sair da cidade, partindo em direção à boca da mata, onde ele estava, duas personificadas figuras femininas: a Realidade e a Liberdade.

Primeiro vem a personagem Realidade, com um rosto feio, que causa horror ao Caeté, deixando-o receoso e tenta convencê-lo a fugir. Depois surge a personagem Liberdade, descrita como uma bela virgem, que o convida à batalha e à vingança. Quando o Caeté tendia para aceitar a Liberdade como escudeira, a Realidade conseguiu vencê-lo pelo argumento, mostrando ao índio, por meio de palavras, que a Liberdade era, na verdade, representante de um ilusório caminho, fadado ao insucesso.

Enfim, triste, mas principalmente resignado por tomar a decisão certa de não se vingar (por não haver forças sobre-humanas para se vingar), já que a luta constituirá outra futura derrota, diante do forte poderio bélico do opressor português, o canhão contra as flechas, o herói Caeté resolve voltar à mata e terminar sua trajetória de vida às margens do Rio Goiana, em Pernambuco, buscando respostas para sua pergunta enigmática “Onde está o teu herói?”.  Mais uma vez, o Caeté se revela como um índio protagonista crítico e consciente.

Acompanhe as nossas futuras publicações que iremos desvendar um pouco mais sobre a vida e a obra de uma das primeiras feministas escritoras em território brasileiro.

  MESTRE VAL VALENÇA

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