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O grupo de rap foi homenageado com o samba-enredo da escola, intitulado “Capítulo 4, versículo 3 – Da rua e do povo, o hip hop: um manifesto paulistano”.
O desfile da Vai-Vai, escola de samba que abriu a noite de Carnaval, teve a participação do rapper Mano Brown e dos integrantes do Racionais MC’s no sambódromo do Anhembi, em São Paulo (SP), neste sábado (10). O desfile incluiu uma réplica pichada da estátua de Borba Gato e uma mensagem clara: “Fogo nos racistas”.
O grupo foi homenageado com o samba-enredo da escola, intitulado “Capítulo 4, versículo 3 – Da rua e do povo, o hip hop: um manifesto paulistano”, uma referência à música “Capítulo 4, versículo 3”, do álbum Sobrevivendo no Inferno, de 1997.
Mano Brown, com o mesmo figurino da bateria, puxou a agitação do samba-enredo: “Bixiga, Bela Vista na área. Chegou a hora, São Paulo”, anunciou o rapper.
Ele ainda fez alusão à música “Diário de Um Detento”, do mesmo álbum, na qual narra a vida do ex-detento Jocenir Prado. A canção abre com os versos: “São Paulo, 1º de outubro de 1992, oito horas da manhã” – véspera do Massacre do Carandiru.
Os demais integrantes do Racionais MC’s marcaram presença no sambódromo ao desfilarem com a bateria da Vai-Vai. Edi Rock, KL Jay e Ice Blue estiveram junto de Mano Brown no desfile.
Outros grandes nomes da cultura do hip-hop paulistana foram homenageados, seja nas alegorias seja com a participação no desfile.
A Vai-Vai levou para a avenida uma réplica pichada da estátua do bandeirante Borba Gato, que foi incendiada em 2021. Com simulações de fogo e fumaça nos pés da estátua, o carro alegórico também exibiu a frase “Fogo nos racistas”.
Em julho de 2021, a estátua foi alvo de um incêndio. Um dos acusados, o entregador de aplicativos e ativista Paulo Galo, justificou que sua ação atraiu a atenção da população a respeito da homenagem à um bandeirante que escravizou povos negros e indígenas.
Durante a semana, a Vai-Vai publicou um aviso em suas redes sociais: “Foi um colono brasileiro, bandeirante paulista, sertanista, proprietário de escravizados e descobridor de metais preciosos. Nas viagens que realizava, para explorar novas terras, os grupos indígenas encontrados pelo caminho eram assassinados, as mulheres estupradas e os sobreviventes aprisionados e vendidos como escravizados. E aí? Fogo na estrutura?”.
Galo desfilou ao lado do artista Negromia e do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, autor do livro “O que é racismo estrutural” e notório defensor da causa negra.
A Vai-Vai é a maior campeã do Carnaval de São Paulo, com 15 títulos, sendo o último em 2015. No ano passado, a escola foi campeã do Grupo de Acesso e garantiu sua participação no Grupo Especial em 2024. Confira o samba enredo da escola:
Olha nós aí de novo, coroa de rei
Capítulo 4, Versículo 3
Vai-Vai manifesta o povo da rua
É tradição e o samba continua
Laroyê, axé me dê licença,
Saravá, seu Tranca-Rua
Eu não ando só, o papo é reto
E a ideia não faz curva
Renegados da moderna arte
Não faço parte da elite
Que insiste em boicotar
“Acharam que eu estava derrotado” “ooooooo”
Quem achou estava errado”
Corpo fechado, sou cultura popular
Meu verso é a arma que dispara
E a palavra é a bala pra salvar
Balançou, balançou o Largo São Bento
Moinho de vento, a ginga na dança
Grande triunfo do movimento
No breaking o corpo balança
Solta o som, alô, DJ
Que eu mando a rima pra embalar manos e minas
Na batida perfeita, meu rap é a voz
As cores da minha aquarela
No muro, a tela que o tempo desfaz
Mas apagar jamais (Vai-Vai, Vai-Vai)
A força do conhecimento
No gueto, procedimento
Atitude de gente bamba
Tem hip-hop no meu samba
É preto no branco, no tom do meu canto
Preconceito nunca mais
Fogo na estrutura
Justiça, igualdade e paz
TEXTO: Revista Forum